Em julho de 2016, nossa equipe foi para Uganda inspecionar os projetos. Essa inspeção acontece para garantir que nossos programas de trabalho voluntário no exterior sejam seguros para os volutnários e também que tenha um impacto social relevante. O Eduardo escreveu um depoimento de como foi essa passagem por Uganda, confira só:
“Emocionalmente, foi difícil passar por Uganda. Em Fort Portal, uma cidade pequena com uns 55 mil habitantes, notei várias pessoas paradas na calçada e, curioso, cheguei mais perto. Vi um senhor deitado no chão e perguntei ao rapaz do meu lado o que tinha acontecido. Ele me respondeu naturalmente: “Morreu”. Não fiquei sabendo o motivo, mas pela espessura das pernas, mais finas que meu pulso, com certeza a fome ajudou.
Foi o primeiro choque. Depois, em uma escola, um dos meninos apareceu com um corte gigante no dedão do pé – a ferida estava exposta – e disse que não conseguia sentir mais o pé, o machucado já estava infeccionado e cheio de moscas em volta. Procuramos a mãe dele para perguntar o que tinha acontecido e a resposta foi que ele tinha se cortado há duas semanas. Falamos que era sério e pedimos para levar ele ao hospital. A reação dela foi um sorriso amarelo, nos autorizou e se retirou. Caso nada tivesse sido feito, eram grandes as chances de que daqui a pouco ele tivesse que amputar o pé ou morresse de alguma infecção generalizada. A mãe não fez por maldade, mas sim por não ter conhecimento devido à falta de acesso à educação.
O momento mais emocionante foi no campo de refugiados. Sempre quis ver de perto essa realidade e imaginava que os campos serviam como um alívio para as pessoas fugindo da guerra nos seus países, mas o que vi na verdade foram milhares de pessoas passando fome, caminhando horas para conseguir um balde d’água e casas feitas só com uma lona. Acho que apenas o medo da morte justifica alguém deixar sua casa para viver nessas condições, mas mesmo assim, esperando ouvir diversas reclamações e pedidos de ajuda, fui recebido com música, dança e sorrisos nos rostos dos refugiados.
Anos atrás aprendi no Nepal a segurar o choro quando descobria a história por trás de cada criança de lá e naquele momento, no campo Nakivale, tentei ser tão forte quanto, mas não consegui e chorei. Espero que algum dia eu consiga ter a força deles e possa cada vez mais ser grato pelo o que tenho.”