O que é ser voluntário?
Texto escrito por Carol Mello, consultora da Exchange do Bem, sobre o que é ser voluntário para ela.
Embora esta seja uma pergunta bem simples, o que é ser voluntário é bem mais profundo do que aparenta ser.
Acredito que posso tentar desvendar essa resposta partindo de como o voluntariado começou em minha vida. Nasci em uma família católica não praticante, fui batizada e minha família por lado materno sempre teve vínculos com o espiritismo kardecista, caminho que na idade adulta optei por seguir.
Minha avó atuava em grupos de oração e de passes, e desde pequena, quando perguntava o que aquilo significava, as pessoas me diziam “É para fazemos o bem ao próximo, cuidar dos que necessitam mais do que nós nesse momento.” Enquanto criança, aquela resposta satisfazia a minha curiosidade.
Meu primeiro contato com o voluntariado
Quando jovem, eu me mudei com meus pais para morar nos Estados Unidos por alguns anos e lá, por incentivos da escola, comecei a fazer atividades extracurriculares de voluntariado. Retornei ao Brasil para cursar a faculdade e quando entrei no meu primeiro emprego, eles tinham um grupo de voluntariado super estruturado, com diversas atividades, e assim pude atuar em múltiplos projetos que tenho muito orgulho. Até hoje, tenho muita gratidão por esse apoio proporcionado pelo meu antigo emprego na época.
Contando por cima como foram meus primeiros contatos com o voluntariado até a idade adulta, as atividades de voluntário sempre me davam vontade de fazê-las ainda mais. Eu gostava sem nem parar para refletir porque aquilo fazia tanto sentido para mim. Apenas fazia sentido, e a pequena voz que temos dentro de nós me dizia “Vamos nos voluntariar! Vai ser super legal, as pessoas precisam de ajuda!”.
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Agora escrevendo sobre esse tema e refletindo sobre sensações e experiências do trabalho voluntário, vejo que o trabalho voluntário é uma troca de energias positivas entre quem atua de coração aberto, para ajudar no que pode, e quem recebe de bom grado com o mesmo coração aberto em reciprocidade.
Ajudar o próximo acaba nos ajudando em tantos aspectos que é difícil explicar com precisão em palavras. Nos doamos para agir principalmente em prol do próximo, sem julgar, sem pensar se somos bons o suficiente ou bons demais para aquela tarefa, em um exercício de autodesconstrução que nos guia para existir no presente e atuar ao lado do bem. Isso é algo muito poderoso.
O trabalho voluntário nos traz tanto bem quanto o que oferecemos ao próximo. E isso vem de graça.
É a sensação de bem estar depois de você ter trabalhado para ajudar na horta de um asilo, quando deita sua cabeça no travesseiro e fica feliz por isso. O sorriso que uma criança te dá quando recebe um presente de Natal. Um animal resgatado da rua que recebe um prato de alimento e come com tanta fome que quase não respira. A satisfação de um imigrante que recebe seu currículo traduzido na língua local para ter mais chances de conseguir um emprego. Essa troca de energia é momentânea e é de graça, vem como um flash da vida se desdobrando na nossa frente.
É como se esses fragmentos de bondade ficassem guardados dentro de nós, para que possamos refletir sobre nossas próprias vidas, sobre nossos problemas pessoais, termos parâmetro para comparar o quanto temos e o quão gratos devemos ser pelo que temos em nossas vidas. E não falo em termos materiais, falo em termos de vínculos humanos, nossos pais, nossos irmãos, tios, primos, amigos e amigas, nossos animais de estimação. Valorizar o que é a energia viva que compõe o enredo à nossa volta.
Desde pequena sempre tive um afeto imenso por animais e pela natureza. Consequentemente, um grande exemplo de vida para mim é São Francisco de Assis. A trajetória dele em sua passagem na Terra sempre me inspirou muito. O desapego ao materialismo, a devoção à caridade, o respeito e amor aos animais e enxergar Deus nos traços da natureza é algo que sempre me fez muito sentido como individuo. Talvez São Francisco seja a minha grande inspiração de vida.
Mas precisa ter vínculo religioso? Não.
E ao mesmo tempo eu acredito que o trabalho voluntário não precisa ter nenhum vínculo ou conotação religiosa. Inclusive os trabalhos voluntários que eu fiz e carrego com maior ternura na memória não tiveram vínculo com nenhuma instituição religiosa. Nada contra quem faz trabalho voluntário com apoio da sua crença pessoal. Porém, penso que não ter uma fé religiosa não impede ninguém de fazer o bem sem olhar a quem.
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Talvez ser voluntário seja um caminho para realizarmos o exercício de enxergar a beleza nas pequenas coisas da vida. Queremos fazer a diferença com nosso poder de formiguinha trazendo uma ajuda para outros ao nosso redor. O sorriso de uma criança, o conforto de um animal, uma pessoa que sente alívio ao ter um auxílio médico. Fazer o bem traz o bem. Isso é algo muito poderoso e bonito que pode transformar nossa caminhada, começando do nosso interior para fora.