Quer saber mais sobre como participar de um trabalho voluntário com crianças em Moçambique?
Um pedido que recebemos constantemente em nosso dia a dia, é mais detalhe sobre a história dos projetos. Com a finalidade de esclarecer as dúvidas, resolvemos entrevistar os fundadores do Lwandi Surf. Esse é um dos projetos queridinhos para quem quer muita imersão cultural e um país que fale português.
O Lwandi Surf é um projeto com surf que possibilita que as crianças sonhem mais alto. Com o intuito de ajudar, o programa oferece de aulas de surfe, natação, yoga, rodas de conversa e acompanhamento escolar. Além disso, o projeto busca orientar e oferecer oportunidades que antes esses jovens não possuíam, permitindo que eles possam surfar na vida.
Entrevista com o Projeto Lwandi
1. Antes de começarmos, conte nos um pouco sobre a história dos fundadores do Lwandi Surf. 😊
Gabriel Fonseca Carrião de Freitas – Engenheiro civil formado pela UFSM com pós-graduação em BIM Management pela Zigurat (Espanha). Já fez intercâmbio de estudos nos EUA e Uruguai. Atuou como voluntário na ONG Engenheiros sem Fronteiras e Liga de Empreendedorismo i9 durante a faculdade. Tem experiência no mercado financeiro e empresa de computação em nuvem. Apaixonado por empreendedorismo, desenvolvimento social e surf.
Gerson Severo da Trindade – Engenheiro civil formado pela UFSM. Foi Co-fundador da ONG Engenheiros sem Fronteiras que atua em projetos sociais na cidade de Santa Maria. Tem experiência com construção civil e elaboração de projetos. Um guitarrista que ama natureza, tecnologia e desenvolvimento social.
Rômulo de Lima de Oliveira – Natural de Campo Grande, formado em engenharia civil pela UFSM. Sempre aproveitou o tempo fora da sala de aula para desenvolver projetos paralelos, principalmente após trabalhar por quase dois anos na empresa júnior de engenharia civil – Base Júnior. Trabalhou na ong Infanciação e na empresa social Hemotify. Estudou gestão empresarial no intercâmbio realizado em Monterrey no México. Apaixonado por educação e sua necessidade de mudança, é co-fundador da iniciativa Roda Escola.
2. Como surgiu a ideia de fundar o Lwandi Surf – o trabalho voluntário com crianças em Moçambique?
Não tem como falar do Lwandi Surf sem explicar como fomos parar em Moçambique primeiro. 🙂
No início de 2017, Gabriel e Gerson receberam um convite para ajudar a cavar poços artesianos em comunidades carentes em Moçambique. Inicialmente, foram 40 dias de muito trabalho na região ao redor da cidade de Beira. Por lá, eles inauguraram 2 poços em regiões afastadas da cidade. O impacto dessa experiência foi tão grande que prometeram retornar um dia e continuar a trabalhar com projetos sociais.
Assim, em abril de 2019, com mais um amigo – Rômulo Lima – todos recém-formados em engenharia civil, retornaram à Moçambique. Desde então, começaram um projeto de longo prazo. Tal projeto envolvia ajudar através de diversos projetos, incluindo engenharia, educação, esporte, entre outros.
Foi durante esse período, na capital Maputo, que surgiu a ideia de começar um projeto. A ideia envolvia uma temática que está crescendo no mundo todo – terapia do surfe. em seguida, após a primeira visita turística em Ponta do Ouro, percebemos que a cidade oferecia os requisitos para começar um projeto de impacto social: uma praia propícia para a prática do surfe; comunidade local com muitos jovens e adolescentes que vivem do turismo local com diversos serviços deficientes na cidade, da educação à saúde; um acesso fácil para o álcool e outras drogas por ser uma cidade turística e perto da fronteira.
Com base nisso, decidimos criar o Lwandi Surf. “Lwandi” é uma palavra da língua local – changana – o qual traz o significado de “mar”. Assim como deve ser para você, o mar é um local de refúgio e reflexão que traz curas terapêuticas para o ser humano. Em muitas cidades de Moçambique, vemos jovens, desde cedo, distanciando-se dos estudos e da educação em geral por diversos motivos. Em Ponta do Ouro, a realidade não é muito diferente.
3. Quantos crianças participam do projeto atualmente? Quantas são meninas e meninos? Qual a faixa etária das crianças?
Atualmente temos 34 jovens no projeto. No total são 14 meninas e 20 meninos. A faixa etária desta primeira turma ficou entre 8 – 19 anos, sendo a média de 13 anos de idade. Mas a partir da segunda turma trabalharemos com uma faixa etária de 12-18 anos.
4. Quais os desafios do dia a dia dessas crianças?
Difícil generalizar, temos diferentes situações de vida dentro do projeto. Já tivemos alunos que viviam em situações de rua, muitos deles voltaram para suas cidades natal por conta da pandemia. Temos alunos que trabalham na rua para gerar uma entrada de renda para família. Falando em Ponta do Ouro e Moçambique em geral, todos sofrem com a falta de necessidades básicas, educação e saúde de qualidade por exemplo. Quando falamos em saúde, falamos no sentindo mais amplo, do saneamento básico a falta de médico na cidade. Além disso, empregabilidade é uma grande problemática do país também. A falta de uma alimentação diária completa é uma questão constante e “normal” em muitas famílias do país também.
5. Como o trabalho voluntário com crianças em Moçambique as ajuda a enfrentar esses desafios?
O projeto trabalha em quatro frentes: saúde física, saúde mental, educação e esporte/lazer. Muito já se sabe sobre os benefícios que a yoga, meditação e a prática de esporte traz para o ser humano. Cada vez mais, novas pesquisas estão surgindo no setor da terapia do surfe, e nós do Lwandi Surf, temos parceiros chave dentro desse ramo e fazemos parte da ISTO – International Surf Therapy Organization. Ou seja, trabalhamos diretamente na parte terapêutica, saúde e bem-estar e educação. Através das nossas rodas de conversa, que tem temas desde cultura de time até educação sexual, abordamos diversos assuntos e temas do mundo, dia a dia, temas que deveriam ser discutidos em escolas por exemplo, mas que normalmente não é o que ocorre.
Através do acompanhamento escolar, capacitações profissionais e parcerias com organizações e empresas locais, vamos desenvolver os nossos participantes e gerar melhores oportunidades de ensino superior e de emprego. Inegavelmente esses são os nossos principais objetivos.
Quanto a alimentação, temos parceiros que fornecem alimentação nos dias de atividades práticas. Além disso, com o nosso financiamento recorrente, queremos aumentar os nossos lanches nos dias das aulas de inglês, por exemplo.
6. Qual é o principal papel do voluntário no Projeto?
O voluntário tem um papel fundamental. Ou seja, isso vai muito mais além de uma frase clichê. Já tivemos três voluntárias da África do Sul trabalhando conosco durante o ano de 2020 e hoje contamos com duas voluntárias no setor de marketing.
Primeiramente vamos sempre alinhar expectativas e responsabilidades com os recém-chegados. Isso já é uma cultura interna nossa. O voluntário tem como principal papel auxiliar nas atividades operacionais: aulas de surf, yoga, meditação, roda de conversa, natação e por aí se vai. Isso não significa que a pessoa não irá trabalhar/contribuir com alguma necessidade estratégica da organização também. Por isso, as primeiras conversas de alinhamento são importantes, tanto para se conhecer melhor, tanto para saber como integrar habilidades.
Outro ponto fundamental: eles gostam de novas atividades, experiências, pessoas. Você será uma motivação a mais para a equipe, e principalmente para os participantes. Eles vão querer saber sua história, sua vida no Brasil. Eles se apegam fácil. E a partir desse momento, o voluntário vai começar a aprender mais do que ensinar. Interação é fundamental para o trabalho voluntário com crianças em Moçambique.
7. O voluntário precisa saber surfar? Quais habilidades são interessantes para o voluntário ter?
Não, não existem restrições para trabalhar com a gente. 🙂
Somos uma organização que trabalha no ramo de saúde, terapêutico, fundada por três engenheiros civis. Dos três fundadores, apenas o Gabriel tinha mais experiência prévia com surf. O Lwandi Surf é um exemplo de se reinventar e procurar conhecimento. Com o intuito de ajudar, o voluntário deve refletir isso também.
O voluntário não precisa saber surfar, ou fazer yoga. Isso ele também pode aprender junto com toda a equipe. Como disse antes, a interação é fundamental. Empatia, escuta ativa, buscar compreender o outro é essencial. Caso você já seja do mundo do surf, ou da yoga, ótimo. Mas vale lembrar que muita gente que surfa por hobby desde pequeno por exemplo, talvez nunca tenha ouvido falar da terapia do surfe.
Temos que “ensinar” muitas coisas para eles, ou melhor, fazê-los encontrarem as respostas. Em um país onde a independência foi apenas em 1975 e ainda contou com uma guerra civil de 15 anos após isso, eles foram ensinados a esperar do estrangeiro branco a ajuda, todas as respostas. Em suma, faz parte do nosso trabalho mostrar que eles têm conhecimento, que as comunidades deles possuem as respostas, estamos ali para dar um norte em alguns pontos.
Outras habilidades interessantes para voluntariado com crianças em Moçambique (não restritivas): saber nadar (talvez o mais essencial), primeiros socorros, trabalhar com fotos e vídeos, salva-vidas, facilitação de grupos, dinâmicas de grupo, língua inglesa.
8. O voluntário tem muita interação com as crianças durante o voluntariado com crianças em Moçambique?
Muita. A convivência é diária, mesmo nos dias sem atividades. Certamente eles vão querer saber sua história.
9. Como o voluntário pode se preparar antes de chegar do início de seu intercâmbio social?
Procurar saber mais sobre o país, sua história, cultura, línguas locais, etc. Assim como, ler sobre a terapia do surfe e suas pesquisas mundo afora pode ser uma boa ideia. O conhecimento sobre facilitação de grupos em geral também ajuda. Além disso, existem vários canais de aulas de surf no youtube também. O canal brasileiro Série ao Fundo é uma indicação nossa. Sintam-se à vontade para trocar uma ideia com a gente. Podemos recomendar mais coisas específicas.
10. Quais as conquistas do Lwandi Surf ao longo de sua história, com o trabalho voluntário com crianças em Moçambique?
Em outubro de 2020 completamos um ano de projeto. Durante esse ano de trabalho voluntário com crianças em Moçambique:
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- – Em torno de 40 jovens já passaram pelo projeto. Atualmente a turma conta com 34 crianças
- – Realizamos 80 aulas de inglês
- – 33 encontros onde praticamos Surf / Yoga / Meditação
- – Lwandi em Casa – 38 famílias, do projeto e da comunidade, ajudadas durante a pandemia com cestas básicas
- – Segundo nossa pesquisa interna, 92% dos participantes se sentem mais ou muito mais felizes após a prática de surf
- – 3 voluntárias já passaram por aqui, além de inúmeros locais e turistas que nos auxiliaram pontualmente
- – mais de 100 doadores já contribuíram com o projeto
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11. O que o voluntário significa para o projeto Lwandi Surf?
Significa vida nova para o projeto. Animação e curiosidade.
12. Por fim, fique à vontade para deixar uma mensagem para os próximos voluntários que quiserem participar desse projeto
Estamos à disposição para trocar uma ideia, bater um papo online, seja o que for. Estamos ansiosos para receber pessoas, que assim como nós, quer ver um mundo melhor e fazer parte disso. Você vai se deparar com situações inusitadas, sejam elas felizes ou tristes. E assim vai desconstruir muitos pontos de vista pessoal e de mundo. Certamente vai aprender mais do que ensinar. Dessa forma, esteja de peito aberto para isso. Um povo humilde e de cultura marcante estará te esperando para uma experiência marcante na sua vida.
Afinal, ficou com vontade de participar? Para ver a descrição completa do projeto, assim como detalhes da acomodação, valores e o que está incluído, esse é o link: https://exchangedobem.com/lwandi-surf-mocambique/.